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Antropogênese
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Antropogênese - , 
4/12/2020 1:22:35 PM | Por Elizabeth Dimock
Origens ancestrais, Monte Quênia

Os povos que vivem nos sopés à volta do Monte Quênia, todos eles acreditam
ser descendentes de Gikuyu, o qual foi chamado por Mogai (o ser supremo) que lhe deu uma grande quantidade de terra que incluía rios e vales, florestas e todos os animais e plantas que lá viviam. Mogai também tinha criado a montanha, chamada Kere-Nyaga (Monte Quênia), que passou a ser o local
onde Mogai descansava quando viajava à volta do mundo. Mogai levou Gikuyu para o cimo da montanha e mostrou-lhe toda a terra que lhe tinha dado, apontando para um sítio onde cresciam figos bravos junto ao centro do país. Foi aí que Gikuyu fez a sua casa.

Todos os filhos de Gikuyu conhecem esta história sobre a origem deste povo, e conhecem também o capítulo seguinte, no qual Mogai prometeu a Gikuyu e à sua mulher, Mumbi, que os filhos e filhas cresceriam e se multiplicariam. Nasceram nove filhas, mas como poderiam multiplicar-se
se não tinham maridos?

Mogai voltou a trazer a salvação. Disse a Gikuyu
que sacrificasse uma cabra gorda que haveria de dar
à luz nove belos jovens. Houve uma grande festa quando Gikuyu levou os nove jovens para casa. As filhas aceitaram-nos como maridos, com a condição
de eles consentirem que fossem as mulheres a dirigir
a casa e de todos viverem juntos na mesma aldeia.
Até hoje, todos os Gikuyu acreditam que descendem
de um dos nove clãs chamados Wacheera, Wanjiko, Wairimo, Wamboi, Wangari, Wanjiro, Wangoi,
Waithera e Warigia.

Os Gikuyu dizem que, durante um grande número
de gerações, todas as mulheres reinaram nas suas casas. No entanto, a narrativa que os homens fazem da estória sugere que as mulheres eram severas na governação e, por fim, o acordo inicial teve de ser quebrado, o status quo foi alterado e foi dado aos homens o papel de chefes da casa.

Mitologia - Mitologia Africana
Antropogênese - , 
7/4/2018 8:18:01 AM | Por Rosana Rios
Karu-Sakaibê, o primeiro homem

(Mito Munduruku)

Dizem que o primeiro de todos os homens foi Karu-Sakaibê, dono de grande poder e bondade. Quando ele andou pela Terra, fez muitas coisas belas. Tinha um companheiro constante, seu filho Rairu, que não era tão corajoso e poderoso quanto o pai, gostava mais de se divertir. Um dia, Karu-Sakaibê enterrou no chão algumas penas e foi soprando sobre elas: algumas se transformaram em rochas, outras em morros e em enormes montanhas. Criou também os rios para correr na Terra, as aves para voar no céu, os peixes para nadar nos rios. Enquanto o pai criava, Rairu brincava; com pedaços de madeira, cipós e folhas, fez no chão o desenho de um tatu.

Achou o desenho tão bom que passou resina feita de cera de abelhas nas folhas e nos galhos, querendo preservar sua criação. Mas quando a resina secou, a mão de Rairu ficou presa no rabo do tatu! O tatu começou a ter vida e se pôs a cavar um buraco, e como Rairu não conseguia se soltar, teve de segui-lo para dentro da terra.” O tatu cavou tanto que foi parar num mundo debaixo do solo, e só lá Rairu conseguiu soltar sua mão e se livrar dele. O [89] que viu lá embaixo o deixou assombrado! Havia homens e mulheres de todos os tipos, vivendo naquele mundo, e ele passou muito tempo andando por ali e observando toda aquela gente.

Karu-Sakaibê ficou preocupado com o desaparecimento de Rairu; como não encontrava o filho em lugar nenhum, achou que ele estava perdido para sempre e resolveu criar um outro filho. Para isso, ele tomou um tronco de madeira e o esculpiu, formando um rapaz; quando a escultura estava pronta, a madeira adquiriu vida e se tornou um ser humano. Mas, a essa altura, Rairu finalmente conseguiu voltar para cima, escalando o buraco do tatu até sair de novo na superfície.

Foi procurar o pai. Quando viu que Karu-Sakaibê ficara muito zangado com seu sumiço, e percebeu que seria castigado, disse-lhe:

- Não me castigue! Descobri que existe gente no mundo debaixo do solo. Eles são muito bonitos, poderiam vir aqui para fora e trabalhar a terra.

E contou tudo o que vira depois de entrar pelo buraco do tatu.

Karu-Sakaibê resolveu, então, trazer para cima todas aquelas pessoas, que estavam vivas, mas não tinham casas para morar nem terra para cultivar.

Quanto ao filho que fizera de madeira, agora que Rairu voltara já não precisava mais dele: deixou que se transformasse numa anta e que fosse viver na mata.

Não seria, porém, muito fácil trazer os humanos de lá do fundo.

Para começar esse grande trabalho, Karu plantou uma semente e aguardou, enquanto ela, imediatamente, se transformava num belo pé de algodão; o criado [90] colheu o algodão e teceu suas fibras, formando uma corda bem forte. Amarrou a corda na cintura do filho e foi com ele até a boca do buraco cavado pelo tatu.

- Você vai voltar lá e convidar aquela gente para subir ao nosso mundo.

Rairu obedeceu. Foi descendo pela corda e, ao ver-se de novo no subterrâneo, tratou de ir chamando as pessoas e explicando como o mundo da superfície era belo e agradável. Nem todos acreditaram nele, mas algumas pessoas resolveram aceitar o convite e segui-lo para cima. Homens e mulheres, então, começaram a escalar a corda e a sair pelo buraco do tatu. Karu-Sakaibê viu que os primeiros a aparecer eram muito feios e sem jeito. Só depois de algum tempo começaram a aparecer pessoas mais bonitas. Uma multidão de gente veio para o nosso mundo; o problema foi que, com todo aquele peso, a corda de algodão se desgastou e, de repente, arrebentou! Por causa disso, os homens e mulheres mais bonitos ficaram no fundo da terra, e é por esse motivo que a beleza é muito rara, até hoje.

Quando se viu diante de tanta gente, Karu-Sakaibê começou a separá-los em tribos, e a explicar onde deveriam viver. Enquanto ele falava, algumas pessoas nem se importavam em ouvir suas instruções; o criador, então, ficou zangado e os transformou em porcos-do-mato. Outros eram muito preguiçosos e não queriam aprender a trabalhar como ele dizia; acabaram pegando no sono, e ele os transformou em morcegos e borboletas. Por fim, quando já havia dividido toda aquela gente em povos distintos, sobraram algumas criaturas tão feias, mas tão feias, que ele resolveu que não seriam humanos. Com o dedo, Karu lhes [91] traçou uma linha vermelha no nariz, e na mesma hora eles se transformaram em mutuns de bico vermelho - e essas aves, até hoje, soltam pios muito tristes e voam pelas matas lastimando a sua transformação.

Um dos povos criados naquela ocasião foi a nação Munduruku; eles foram levados pelo criador para o território do alto Rio Tapajós.

Karu-Sakaibê ensinou a eles as formas de caçar; depois preparou um campo e semeou ali plantas variadas. Após cair a primeira chuva, todos viram nascer a mandioca, o cará, o milho, o algodão, a batata e todas as coisas boas para comer e fazer remédios. Também fez em cada um deles as primeiras tatuagens, que são iguais às que ele mesmo tinha.

Porém os Munduruku, divididos em dois clãs, viviam brigando e guerreando. Karu-Sakaibê voltou para junto deles e mandou que se unissem em um só povo.

Disse a eles:

- Parem com a guerra. Todos serão irmãos, todos serão alegres.

Desde então, os homens fazem como ele lhes ensinou. E somente quando houve paz e os Munduruku se tornaram uma grande nação, foi que Karu os deixou, prometendo que seus descendentes seriam todos corajosos e fortes.

Dizem alguns que ele foi morar debaixo da terra; mas muitos acreditam que Karu-Sakaibê foi para os céus, e é lá que ele recebe os mortos quando deixam o mundo. [92]

Povo Munduruku

Esse povo recebeu dos Parintintins o nome de Munduruku ou Mundurucu, que significa “formigas vermelhas”; mas o nome pelo qual se autodenominam é Wuyjugu. Sua língua pertence ao tronco Tupi.

É um povo tradicionalmente guerreiro, originário de áreas próximas ao Rio Tapajós, na Amazônia. Hoje vivem nos estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso. Por muito tempo, os Munduruku combateram os portugueses e sempre defenderam suas terras dos invasores, desde os seringueiros, nos tempos do Ciclo da Borracha, até os garimpeiros, em tempos mais recentes.

Infelizmente, ao que parece, o povo Munduruku e seus territórios continuam sendo ameaçados, agora por projetos de construções de estradas e de hidrelétricas. [93]

Mitologia - Mitologia Sul-Americana
Antropogênese - , 
7/2/2018 5:54:31 PM | Por Rosana Rios
Titikaca, Huiracocha e a criação dos homens

Depois que um grande dilúvio cobriu a Terra, tudo era água, escuridão e silêncio. A primeira luz surgiu com o aparecimento de um jaguar de fogo, que se chamava Titi, e vivia tanto na terra quanto na água. Titi subiu a uma alta montanha de pedra e de lá iluminou o mundo; desde então, aquela foi chamada a Rocha do Jaguar, ou Titi-Kaka. Naquela região, formou-se um lago, que nasceu pois o Deus-avô Khunu[1] havia estendido um manto de gelo sobre os planaltos dos Andes. Desse gelo derretido teve início o enorme lago sagrado consagrado ao jaguar de fogo, e que também se chamou Titikaca. Foi então que apareceu, às margens do lago sagrado, um grande deus que foi chamado Kon Tiki Huira Cocha Pachayachachic. Alguns o chamam de Huiracocha ou Viracocha, outros simplesmente de Criador, e alguns acreditam ser ele o Deus-Sol.

Huiracocha queria povoar a terra devastada pelas águas e começou a criar os seres humanos esculpindo pedras e dando-lhes forma de gente. Formou homens, mulheres, crianças, chefes, famílias. Para cada grupo, Huiracocha deu uma denominação, decidiu que ponto [43] do mundo iriam povoar, que línguas falariam e que nome cada criatura teria. Ele colocou os grupos de estátuas de pedra em nascentes, rochedos ou cavernas espalhados por vários lugares; mas todos continuavam imóveis.

Depois disso, o Criador trouxe para junto do Titikaca[2]dois filhos, ou ajudantes, que tinham por nomes Tocapa Huiracocha e Imaymana Huiracocha. E lhes disse para irem pelo mundo, a cada um dos lu­ gares para onde ele havia mandado os seres de pedra. Chegando aos locais, Tocapa e Imaymana deveriam chamar as criaturas pelos nomes que lhes tinham sido atribuídos pelo deus.

Tudo aconteceu conforme as ordens dadas: assim que eram chamados por seus nomes, os homens e as mulheres de pedra ganhavam a vida. Cada grupo saiu das cavernas, rochedos ou nascentes de rio em que o Criador os colocara, e fundaram então cidades para viver, criar seus filhos e povoar o mundo. Muitos deles receberam instruções dos Huiracochas sobre como trabalhar o solo, como construir casas e como alimentar-se.

Agradecidos ao Deus Criador, esses povos consideraram as pedras ou as cavernas de onde haviam saído como huacas, ou lugares sagrados.[3]

Os dois enviados do deus deveriam também trazer à vida plantas, flores e frutos, o que eles faziam dando nomes a cada uma de suas criações. Precisariam ainda criar animais, machos e fêmeas, ensinar às aves o tipo de canto que cada espécie teria de cantar e designar para cada espécie de animal o local que deveria habitar. Assim eles fizeram, e logo a Terra se encheu de seres viventes. Mas ainda havia escuridão; por isso, [42] para que houvesse luz - além daquela primeira luz do jaguar de fogo - Huiracocha separou o dia da noite e criou o Sol, a Lua e as estrelas.

Ele ordenou aos astros que alcançassem o ponto mais alto da ilha que existe no meio do lago Titikaca, e que de lá subissem ao céu e iluminassem a Terra.

No momento em que o Sol nasceu pela primeira vez, o deus chamou uma das raças que criara, a que ele dera o nome de Incas. Esse povo surgiu, pelas ordens do deus, de uma gruta chamada Paccari-Tambo, que depois seria homenageada como o local de origem daquela nação. Huiracocha lhes apareceu em uma forma resplandecente; contou-lhes que era seu criador e que estavam destinados a dominar muitas nações. Dizem que foi nesse dia que o deus entregou ao governante - a quem alguns chamam de Manco Capac - as insígnias reais: o ornamento para a cabeça e o cetro, dois objetos que seriam o símbolo do povo Inca.

Depois Huiracocha deixou o Titikaca e foi caminhar pelo mundo, para verificar como os seres que tirara das pedras viviam, e ver se haviam se multiplicado e se cumpriam as determinações dele. Muitos povos honraram seu Criador, mas alguns não o reconheceram. Os povos que não obedeciam a suas ordens eram transformados em pedra, como castigo; as estátuas dessas criaturas estão espalhadas pelas terras visitadas pelo deus.

Uma estória conta que, ao andar em direção à cidade de Cuzco, ele parou na localidade chamada Cacha e viu os moradores correrem em sua direção brandindo armas, para matá-lo. Furioso, Huiracocha ordenou que chovesse fogo sobre eles, a partir do cume de uma montanha. O fogo começou a avançar sobre [43] a cidade, e somente então os homens perceberam que tinham um deus diante de si: prostraram-se a seus pés e lhe pediram que os perdoasse. Com um gesto do Criador, o fogo parou de descer da montanha e os homens se salvaram, mas até hoje é possível ver as encostas queimadas do morro.[4]

Os incas se tornaram um grande Império, e os povos criados por Huiracocha construíram muitas huacas para honrar os lugares e os seres sagrados. Dizem que, depois de deixar inúmeros ensinamentos às suas criaturas, o deus prometeu que um dia voltaria, e partiu; alguns acreditam que ele e seus filhos desapareceram nos céus.[5]Outros afirmam que eles se foram pelo mar, caminhando sobre as águas até sumirem na distância. Mas todos sabem que, um dia, Huiracocha voltará. [44]

Povo Inca

O Império Inca foi, provavelmente, a civilização mais influente entre todas as culturas localizadas nas regiões dos Andes. Quando os espanhóis ali chegaram, no século XVI, o Império cobria uma enorme extensão da Costa Ocidental da América do Sul, do Peru ao Chile. A palavra “Inca” se refere ao governante supremo, que mantinha a sede de seu governo no Peru; mas acabou relacionada aos diversos povos que formavam o império e às suas peculiares formas de civilização.

Habitavam terras vizinhas dos povos Araucanos, Fueguinos, Chibchas e Aymaras, tendo absorvido deles vários mitos e várias lendas; na verdade, as tradições dessas populações também se mesclaram com a dos Incas, num processo de troca cultural.

Uma variação de seus mitos de origem diz que o Deus Criador (às vezes também denominado Huiracocha ou Viracocha), identificado com o Sol, foi o pai dos primeiros incas – Manco Capac e Mama Occlo – e que os enviou pelo mundo para civilizar os homens. Isso teria ocorrido por volta do ano 1.200 da era comum. Mas há quem afirme que os primeiros incas viveram muito antes disso.

Seja como for, suas conquistas foram enormes em terra, riqueza e obras arquitetônicas, mas duraram pouco tempo; o último soberano Inca, Atahualpa, seria aprisionado e morto por ordens do conquistador Francisco Pizarro.

Mitologia - Mitologia Inca
Antropogênese - , 
8/7/2017 1:59:11 PM | Por Márcia Gimenez
O universo vivo dos maias

As religiões judaico-cristãs, base da cultura ocidental, defendem um padrão histórico no qual os eventos se sucedem linearmente no tempo. As figuras, como Cristo, Noé ou Abraão, tem existência física, isto é, sua história tem começo meio e fim. Já os povos mesoamericanos possuíam um conceito de tempo cíclico para explicar as origens do mundo. Esse conceito é semelhante ao das civilizações orientais, que começaram a ficar famosas no Ocidente a partir dos anos 60 do século passado. Desta forma, os maias não acreditavam em um processo linear e exato de criação. Ao contrário: as eras nasciam, tinham seu auge e morriam, sucessivamente, como os próprios seres humanos. Esse tempo era regido pelos ciclos naturais. O principal marcador era o sol, que assume papel divino em várias culturas das Américas. As explicações deste grande tempo cosmogônico somam-se às da criação da vida humana.

 

CRIAÇÃO PARA ADORAR OS CRIADORES

O Popol Vuh, livro sagrado dos maias, que pode ser encontrado nos dias atuais, narra a criação dos primeiros heróis da civilização. Segundo a obra, no inicio dos tempos os deuses criaram as plantas e animais por meio da palavra. Contudo, estes seres não tinham consciência de si, nem podiam venerá-los. Decidiram, então, criar os seres humanos. Os primeiros foram feitos à base de barro. Os deuses não ficaram muito felizes com o resultado, tanto que enviaram um dilúvio para acabar com a espécie.

A segunda leva de seres humanos foi feita de madeira. Também não ficou muito boa e acabou perecendo debaixo de outro dilúvio - desta vez de lava - enviado pelos próprios criadores.

A terceira "fornada" de seres humanos ficou mais a contento dos idealizadores da espécie. Isso porque, segundo o livro, foi feita com um material sagrado: o milho. Os novos seres eram dotados de consciência de si mesmo e de seus mentores, conseguida graças ao sangue emprestado pelos próprios deuses.

Os deuses deixaram claro, então, que era missão dos seres humanos reverenciá-los Caso não o fizessem, não somente a espécie humana, mas todo o universo pereceria. Para agradar os criadores, homens e mulheres começaram a ofertar frutos, flores, alimentos e, logo, o item mais caro a todos: sangue humano.

 

A TERRA PLANA

O mundo descrito pelos maias é complexo. Além da superfície do planeta, habitada pelos humanos, há também 13 extratos celestes, que se elevam a partir da superfície do planeta como uma pirâmide escalonada. Seu senhor é Itzamna, simbolizado por um dragão. Assim, ao encarar a subida de um templo sagrado, um sacerdote ou mesmo um cidadão maia comum estava escalando, de forma ritual, esta montanha sagrada em direção ao topo espiritual do universo.

Para os maias, a terra era uma prancha quadrangular e plana - eles não tinham o conhecimento de que o planeta é redondo. Essa prancha era dividida em quatro áreas relacionadas aos pontos cardeais, que possuíam cada um uma cor. O oeste era negro, o norte, branco; o leste vermelho; e o sul, amarelo. O zênite, ponto mais alto do centro do céu, e o nadir, ponto mais baixo no interior da terra, também eram reverenciados. Esse eixo era considerado sagrado e tido como o centro do universo.

Além do céu e da terra, havia também o submundo, local de destino dos mortos. Na verdade, nove mundos subterrâneos, empilhados. Eram dominados por Ah Puch, o descarnado. Templos como o das Inscrições, na cidade de Palenque, reproduzem em suas construção tais níveis subterrâneos. Esses mundos não são estáticos: uma grande árvore tem suas raízes fincadas no submundo, passa pela terra e chega aos céus.

 

PAI E MÃE DIVINOS

Os maias tinham grande apreço por Ixchel, deusa da lua e guardiã das mulheres grávidas, bem como por seu marido, Itzamna, o deus sol. Ixchel é representada com serpentes na cabeça: também tem seu lado duro, sendo considerada a deusa das inundações. Durante a dominação tolteca, por volta do século X, prepondera o culto da Serpente Emplumada, ou Kukulkan, que eqüivale ao Ouetzaicóatl dos astecas.

O culto fica centralizado em Chichén Itzá, mas com a queda da cidade e o renascimento da cultura maia, no chamado período pós-clássico (séculos XI e XII), ressurgem com força os demais deuses maias.

Mitologia - Mitologia Maia
Antropogênese - , 
8/3/2017 10:43:29 PM | Por Mirella Faur
A criação da humanidade e das castas nórdicas por Heimdall

Uma atuação muito importante é a sua contribuição na criação e evolução da raça humana, conforme descrito no poema “Rigsthula”. Usando o nome de Rig, Heimdall perambula pela terra e gera filhos em três famílias de classes sociais diferentes, tornando-se assim o pai da humanidade e das castas, intermediário entre os deuses e os homens. A estória conta como Heimdall estava viajando e, ao chegar em uma humilde cabana à beira do mar e se apresentar como Rig, foi hospedado por um casal muito pobre, vestido com farrapos e chamado Ai (bisavô) e Edda (bisavó). Após o jantar muito simples, ao redor da fogueira, composto de caldo ralo e pão de farelos, Rig convenceu o casal a deixá-lo partilhar do estrado sobre o qual dormiam, ficando no meio deles e permanecendo por três dias e três noites na choupana dos bisavôs. Após nove meses Edda deu a luz a um filho com pele escura, feio e deformado, mas forte e trabalhador, que após tornar-se adulto ficou cuidando da terra dos seus pais e vivendo precariamente. Chamado Thrall, tornou-se o ancestral dos servos e escravos.

Seguindo na sua caminhada, Rig chegou a uma fazenda onde foi bem recebido por Afl (avô) e Amma (avó) que lhe ofereceram um jantar arrumado sobre uma mesa de tábuas coberta com uma toalha, composto de pão de centeio, manteiga, carne de vaca e cerveja. Rig novamente obteve a aquiescência do casal para dormir no meio deles, em uma cama macia e com cobertor de peles. Ele permaneceu com eles três dias e três noites observando suas atividades: Afi estava cuidando do campo e dos animais e entalhava madeira, enquanto Amma fazia pão, plantava e tecia. Após nove meses nasceu Karl, um menino forte, de cabelos ruivos, pele e olhos claros, que seguiu o trabalho do pai, casou-se com uma moça prendada e tornou-se o ancestral dos fazendeiros e camponeses.

Na terceira parada Rig entrou em uma mansão que pertencia a Fadhii (Pai) e Modhir (Mãe), um casal belo e rico que não trabalhava, apenas se divertia. O homem cavalgava e caçava, a mulher cuidava da sua pele alva como a neve e se enfeitava com joias. O jantar foi servido em louça fina e o vinho em cálices de prata, acompanhando pratos com carne de caça e frutas exóticas. Na cama com travesseiros de penas de ganso e cobertas bordadas, Rig novamente dormiu no meio do casal durante três noites. Quando no devido tempo nasceu o filho Jarl, ele tinha pele branca, era alto, louro, com olhos azuis, vestido com roupas de seda e veludo. Ele aprendeu a manejar armas e cavalgar e, depois de adulto, foi treinado pelo próprio Rig para ser guerreiro e dirigente, aprendendo também os mistérios das runas. Após conquistar muitas terras, acumular riquezas e glórias, Jarl foi morar em um amplo castelo, onde um dos seus filhos, Konur, tornou-se o primeiro rei da Dinamarca e o outro, sacerdote de Odin. Acredita-se que da sua linhagem descenderam os reis da Dinamarca, mas não é certo, pois o manuscrito termina neste ponto da estória.

Este mito se assemelha a um conto de fadas com suas variações e repetições tríplices nas descrições e diálogos. Ele fornece uma detalhada e pitoresca descrição das três classes sociais: servos, camponeses e nobres guerreiros, em que era dividida a sociedade no Período Viking. Mesmo fazendo parte da coletânea de poemas dos Eddas, é evidente a conotação racista, com o enaltecimento das qualidades dos aristocratas descendentes dos indo-europeus (altos e de pele clara) em contraste com a opressão e menosprezo aos nativos sami (baixos e de pele escura) obrigados a trabalhar como escravos. Os arianos chamavam os nativos (sami, inuits e esquimós) de skraelings ou “selvagens deformados”. Visto de forma metafórica este mito descreve a evolução necessária da raça humana ao longo das gerações, até quando o filho de Deus torna-se aprendiz e sacerdote.

Uma estória semelhante existia nas tribos germânicas no tempo de Tácito, que descreveu como o deus Mannus deu origem às três grandes tribos: Ingvaeones (perto do mar), Hermiones (no interior), Istvaeones (os demais). O nome Mannus significa “homem” (ser humano), possuidor de todos os atributos do intelecto e da sabedoria trazidos por Eleimdall para a humanidade, personificados pela Ponte do Arco-Íris, que liga o plano divino ao humano no sentido espiritual e genético.

Na tradição celta da Irlanda existia uma lenda semelhante do deus Manannan Mac Lir, chamado “Filho do Mar” (o mesmo título de Heimdall) e rebente da Ilha de Man. O nome Rig (assumido por Heimdall durante sua peregrinação) era idêntico à palavra celta significando “rei”, indicando influências celtas no poema “Rigsthula”. No mito do seu nascimento é descrito o encontro de Odin com nove lindas gigantes, as Donzelas das Ondas, chamadas Gialps, Greip, Egia, Augeia, Ulfrun, Aurgiafa, Atia e Tarnsara. Conquistadas pela eloquência e o charme de Odin, elas se tornaram suas amantes e juntas tiveram um filho, Heimdall. Ele foi nutrido com a força da terra, a umidade do mar, o calor do sol e assim cresceu com rapidez e vigor. Quando Heimdall se ofereceu para ser o guardião da ponte Bifrost — construída de ar, água e fogo —, os deuses de Asgard lhe conferiram uma audição tão aguçada que podia ouvir a grama e a lã das ovelhas crescer, bem como enxergar à longa distância, de dia e de noite. Ele recebeu também a corneta Gjallarhorn (para avisar a chegada dos inimigos), que tinha a forma de uma semilua e que ele guardava ora nos galhos de Yggdrasil, ora na fonte de Mimir.

Representado com uma armadura branca resplandecente, Heimdall era chamado de “Deus branco”, um título encontrado em um mito fino-régrico sobre o “Jovem branco”, o pai da raça humana, que tinha sido nutrido pelo leite e o espírito da Árvore do Mundo. Conhecido pela sua natureza luminosa, bela e bondosa, Heimdall era visto como a personificação da Árvore do Mundo e do arco-íris. Caracterizado como Gullintani (dentes de ouro) devido ao brilho dourado dos dentes, ele aparecia no alvorecer como mensageiro do dia e era chamado Heimdellingei.

Por ser conectado com o mar — pela herança materna das gigantas das ondas — era incluído às vezes entre as divindades Vanir, sendo dotado de muito conhecimento e sabedoria ancestral. Junto com o deus Bragi, Heimdall dava as boas-vindas aos heróis que chegavam em Valhalla, dedicando-lhes frases elogiosas sobre a sua coragem e valentia. Heimdall participou da construção do muro de Asgard, aconselhando os deuses como evitar que Freyja fosse dada como pagamento ao gigante construtor. Outra cooperação de Heimdall foi sua participação no resgate do colar da deusa Freyja.

Mitologia - Mitologia Nórdica
Antropogênese - , 
8/3/2017 12:45:25 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Nü Wa, a criadora dos homens

A lenda de Pan Gu, o criador do Universo, conta que apos a morte de Pan Gu, o seu espirito deu origem a humanidade. Existe, no entanto, uma outra lenda que relata ter sido Nü Wa, uma bondosa e gentil deusa, a criadora da humanidade, tendo também sido ela quem, trabalhando exaustivamente em desafio, remendou o céu que tinha sido destruído - contribuindo assim largamente para a sobrevivência e felicidade da raça humana. Esta historia prossegue do seguinte modo: Apos a união do Universo, a deusa Nü Wa encetou longas viagens por todas as partes mais recônditas do firmamento e da terra. No majestoso céu, o sol, a lua e as estrelas competiam em esplendor; no poderoso mundo, altas montanhas, longos rios, luxuriante vegetação, viçosas arvores, alegres animais, cantoras aves, irrequietos peixes, enfim... tudo, aparentava vigor e pujança. A deusa sentiu-se rejubilante com tudo quanto viu, todavia, sentiu ainda haver algo de insuficiente. Sim, era ainda necessário criar um ser que fosse mais inteligente que tudo e todos, capaz não só de trabalhar, mas também de comandar e administrar o mundo. Por mais perfeito que fosse o universo, por maior variedade de espécies vivas que tivesse o mundo, era essencial criar um elo de ligação entre todas as coisas através de raça humana. Dando asas à sua imaginação criadora, a deusa Nü Wa modelou a sua própria imagem uma serie de figurinhas de aspecto humano, dando-lhes os dons do movimento e da fala.

Satisfeita com a sua concepção, a deusa decidiu esmerar-se e prosseguir com o seu trabalho, e assim, passado pouco tempo, um grupo de figurinhas humanas de ambos os sexos surgiu na sua frente, cantando e pulando alegremente.

A deusa deu as figurinhas o nome genérico de "homens", que realmente veio a designar todo o ser vivo que normalmente se mantem e se locomove em uma posição ereta. Se bem que a deusa Nü Wa não parasse de fazer mais e mais figurinhas em uma tentativa sobre-humana de povoar o vasto território terrestre com homens dotados de poder de fala e de movimento, por mais esforços que fizesse a sua capacidade de fabrico seria sempre pequena em proporção a imensidão do planeta, vindo os homens a sentirem-se demasiadamente sós e dispersos em sua superfície. Apos ela ter trabalhado afincadamente dias seguidos, o em número de pessoas que se encontravam dispersas no mundo continuava bastante reduzido. Cansada, veio-lhe de repente a mente uma ótima ideia. Partindo um caniço de uma montanha, atou a uma das suas extremidades uma grande pedra. Segurando-a na extremidade do lado oposto, e depois colocando entre ela e a pedra de permeio um monte de barro, a deusa começou a rodar velozmente o caniço tal como se fosse uma criança saltando a corda.

Oh, inesperado milagre! Imediatamente, os pedaços do barro que o caniço desprendia com a sua rotação, se transformavam em energéticos homenzinhos, mal tocavam o solo. Tratava-se realmente de um método mais econômico e eficaz! Incessantemente, uns apos outros, milhares de homens foram assim produzidos, vindo-se a dispersar pelos quatro cantos do mundo, adequadamente povoando a terra inteira. Depois, e para que a humanidade não se extinguisse, a deusa Nü Wa concebeu regime de casamento entre homens e mulheres - de modo que estes pudessem se amar mutuamente, estabelecerem famílias e procriarem-se. Por isso, os povos da antiguidade chamavam Nü Wa de a "casamenteira santa" ou de a "deusa do casamento".

Mitologia - Mitologia Chinesa
Antropogênese - , 
7/29/2017 8:50:56 PM | Por Junito de Souza Brandão
As Eras da Humanidade

Cada uma das Idades está "aparentada" com um metal, cujo nome toma e cuja hierarquia se ordena do mais ao menos precioso, do superior ao inferior: Ouro, Prata, Bronze, Ferro. O que surpreende é que em todas as quatro Eras, cujo valor se afere pelos metais, Hesíodo tenha intercalado entre as duas últimas mais uma: a Era dos Heróis, que não possui correspondente metálico algum. Há os que procuram explicar o fato por uma preocupação historicista, já que o poeta sabia que antes dele tinham vivido homens e heróis notáveis, que se imortalizaram em Tróia e em Tebas. Era de Ouro - Os homens mortais da Idade de Ouro foram criados pelos próprios imortais do Olimpo, durante o reinado de Crono. Viviam como deuses e como reis, tranquilos e em paz. O trabalho não existia, porque a terra espontaneamente produzia tudo para eles. Sua raça denomina-se de ouro, porque o ouro é o símbolo da realeza. Jamais envelheciam e sua morte assemelhava-se a um sono profundo. Após deixarem esta vida, recebiam o basíleion guéras, que quer dizer, o privilégio real, tornando-se daímones epikhthónioi,intermediários, aqui mesmo na terra entre os deuses e seus irmãos viventes. Esse basileion gnéras tem uma conotação toda especial, quando se leva em conta que os daimones epikhthónioi, esses grandes intermediários, assumem em "outra vida" as duas funções que, segundo a concepção mágico-religiosa da realeza, definem a virtude benéfica de um bom rei: como phýlakes, como guardiões dos homens, velam pela observância da justiça e, como plutodótai, como dispensadores de riquezas, favorecem a fecundidade do solo e dos rebanhos. Curioso é que Hesíodo emprega as mesmas expressões, que definem os "reis" da Era de Ouro, para qualificar os "reis" justos do seu século. Os homens da Era de Ouro viam hòs theoí, como deuses; os reis justos do tempo do poeta, quando avançam pela assembleia e, por meio de suas palavras mansas e sabias, fazem cessar a hýbris, o descomedimento, são saudados como theòs bós, como um deus. E assim como a terra, à época da Era de Ouro, era fecunda e generosa, igualmente a cidade, sob o governo de um rei justo, floresce em prosperidade sem limites. Ao contrário, o rei que não respeita o que simboliza seu sképtron, o seu cetro, afastando-se pela Hýbris do caminho que conduz à Díke, transforma a cidade em destruição, calamidade e fome. É que, por ordem de Zeus, trinta mil imortais invisíveis (que são os próprios daímones epikhthónioi) vigiam a piedade e a justiça dos reis. Nenhum deles, que se tenha desviado da Díke, deixará de ser castigado mais cedo ou mais tarde pela própria Díke.

 

Era de Prata - Foram mais uma vez os deuses, os criadores da raça de prata, que é também um metal precioso, mas inferior ao ouro. À soberania piedosa do rei da Era de Ouro fundamentada na Díke opõe-se uma "Hýbris louca". Tal Hýbris, porém, nada tem a ver com a Hýbris guerreira: os homens da idade de prata mantêm-se afastados tanto na guerra, quanto dos labores campestres. Essa Hýbris, esse descomedimento, é uma asébeia, uma impiedade, uma adikía, uma injustiça de caráter puramente religioso e teológico, uma vez que os "reis" da raça de prata se negam a oferecer sacrifícios aos deuses e a reconhecer a soberania de Zeus, senhor da Díke. Exterminados por Zeus, os homens da raça de prata, recebem, no entanto, após o castigo, honras menores é verdade, mas análogas às tributadas aos homens da Era de Ouro: tornam-se daímones hypokhthónioi, intermediários entre os deuses e os homens, mas agindo de baixo para cima, na outra vida. Além do mais, os mortais da raça agêntea apresentam fortes analogias com os Titãs: o mesmo caráter, a mesma função, o mesmo destino.

Orgulhosos e prepotentes, mutilam o seu pai Urano e disputam com Zeus o poder sobre o universo. Reis, pois que Titán em grego, em etimologia popular, aproxima-se de Titaks, rei, e Titéne, rainha, os Titãs têm por vocação o poder. Face a Zeus, todavia, que representa para Hesíodo a soberania da ordem, da Díke, aqueles que simbolizam o mando e a arrogância da desordem e da Hýbris. De um lado, portanto, estão Zeus e os homens da Era de Ouro, projeções do rei justo; de outro, os Titãs e os homens da Era de Prata, símbolos de seu contrário. Na realidade, o que se encontra no relato das duas primeiras eras é a estrutura mesma dos mitos hesiódicos da soberania.

 

Era de Bronze - Os homens da raça de bronze, consoante Hesíodo, foram criados por Zeus, mas sua matriz são os freixos, símbolo da guerra. Trata-se aqui da Hýbris militar, da violência bélica, que caracteriza o comportamento do homem na guerra. Assim, do plano religioso e jurídico se passou às manifestações da força bruta e do terror. Já não mais se cogita de justiça, do justo ou do injusto, ou de culto aos deuses. Os homens da Era de Bronze pertencem a uma raça que não come pão, quer dizer, são de uma era que não se ocupa com o trabalho da terra. Não são aniquilados por Zeus, mas sucumbem na guerra, uns sob os golpes dos outros, domados "por seus próprios braços", isto é, por sua própria força física. O próprio epíteto da era a que pertencem esses homens violentos tem um sentido simbólico. Ares, o deus da guerra, é chamado por Homero na Ilíada de Khálkeos, isto é, "de bronze". No pensamento grego, o bronze, pelas virtudes que lhe são atribuídas, sobretudo por sua eficácia apotropaica, está vinculado ao poder que ocultam as armas defensivas: couraça, escudo e capacete. Se o brilho metálico do bronze reluzente infunde terror ao inimigo, o som do bronze entrechocado, essa phoné, essa voz, que revela a natureza de um metal animado e vivente, rechaça os sortilégios dos adversários.

A par das armas defensivas, existe uma ofensiva também estreitamente ligada à indole e à origem dos guerreiros da Era do Bronze. Trata-se da lança ou dardo confeccionado de madeira especial, a melia, isto é, o "freixo". E não foi do freixo que nasceram, segundo Hesíodo, os homens da Era do Bronze? As ninfas mélias ou melíades, nascidas do sangue de Urano, estão intimamente unidas a essas árvores "de guerra" que se erguem até o céu como lanças, além de se associarem no mito a seres sobrenaturais que encarnam a figura do guerreiro. Jean-Pierre Vernant faz uma aproximação muito feliz do gigante Talos com os homens da raça de bronze. Esse Talos, guardião incansável da ilha de Creta, nascera de um freixo (melia) e tinha o corpo todo de bronze.

Como Aquiles, era o gigante cretense dotado de uma invulnerabilidade condicional, que somente a magia de Medeia foi capaz de destruir. Os Gigantes, "à cuja família" pertence Talos, representam uma confraria militar, dotada de uma invulnerabilidade condicional e em estreita relação com as ninfas Mélias ou Melíades. Na Teogonia o poeta "gerou os grandes Gigantes de armas faiscantes (porque eram de bronze), que têm em suas mãos compridas lanças (de freixo) e as ninfas que se chamam Mélias".

Assim entre a lança, atributo militar, e o cetro, atributo real da justiça e a paz, há uma diferença grande de valor e de nível. A lança há que submeter-se ao cetro. Quando isso não acontece, quando essa hierarquia é quebrada, a lança confunde-se com a Hýbris. Normalmente para o guerreiro, tributário da violência, a Hýbris dele se apodera, por estar voltado inteiramente para a lança. É o caso típico, entre outros, de Ceneu, o "lápita da lança", dotado como Talos, Aquiles e os Gigantes de uma invulnerabilidade condicional como todos os que passaram pela iniciação guerreira. Ceneu fincava sua lança sobre a praça pública, rendia-lhe um culto e obrigava a todos que por ali passassem a tributar-lhe honras divinas. Filhos da lança, indiferentes à Díke e aos deuses, os homens da raça de bronze, como os Gigantes, após a morte, foram lançados no Hades por Zeus, onde se dissiparam no anonimato da morte.

 

Era dos Heróis - A quarta era é a dos heróis, criados por Zeus, uma "raça mais justa e mais brava, raça divina dos heróis, que se denominam semideuses". Lendo-se, com atenção o que diz Hesíodo acerca dos heróis, nota-se logo que os mesmos formam dois escalões: os que, como os homens da era de bronze, se deixaram embriagar pela Hýbris, pela violência e pelo desprezo pelos deuses e os que, como guerreiros justos, reconhecendo seus limites, aceitaram submeter-se à ordem superior da Dike. Um exemplo bem claro desses dois escalões antitéticos é a tragédia de Ésquilo. Os sete contra Tebas: em cada uma das sete portas ergue-se um herói mordido pela Hýbris, que, como um gigante, profere contra os imortais e contra Zeus terríveis impropérios; a este se opõe outro herói, "mais justo e bravo", que temperado pela sophrosýne, pela prudência, respeita tudo quanto representa um valor sagrado. O primeiro escalão, os heróis da Hýbris, após a morte, são como os da Era de Bronze, lançados no Hades, onde se tornam nónymoi, mortos anônimos; o segundo, os heróis da Dike, recebem como prêmio, a Ilha dos Bem Aventurados, onde viverão para sempre como deuses imortais.

 

Era de Ferro - "Oxalá não tivesse eu que viver entre os homens da quinta era: melhor teria sido morrer mais cedo ou ter nascido mais tarde, por agora é a era de ferro..." Hesiodo em Trabalhos e Dias 174 - 176. No mito de Prometeu e Pandora, Hesíodo nos dá um panorama da Era de Ferro: doenças, a velhice e a morte; a ignorância do amanhã e as incertezas do futuro; a existência de Pandora, a mulher fatal, e a necessidade premente do trabalho. Uma junção de elementos tão díspares, mas que o poeta de Ascra distribui num quadro único. As duas Érides, as duas lutas, se constituem na essência da Era de Ferro.

A causa de tudo foi o desafio a Zeus por parte de Prometeu e o envio de Pandora (vide mito de pandora). Desse modo, o mito de Prometeu e Pandora forma as duas faces de uma só moeda: a miséria humana na Era de Ferro. A necessidade de sofrer e batalhar na terra para obter o alimento é igualmente para o homem a necessidade de gerar através da mulher, nascer e morrer, suportar diariamente a angústia e a esperança de um amanhã incerto. É que a Era de Ferro tem uma existência ambivalente e ambígua, em que o bem e o mal não estão somente amalgamados, mas ainda são solidários e indissolúveis. Eis aí por que o homem, rico de misérias nesta vida, não obstante se agarra a Pandora, "o mal amável", que os deuses ironicamente lhe enviaram. Se este "mal tão belo" não houvesse retirado a tampa da jarra, em que estavam encerrados todos os males, os homens continuariam a viver como antes, "livres de sofrimento, do trabalho penoso e das enfermidades dolorosas que trazem a morte". As desgraças, porém despejaram-se pelo mundo; resta, todavia, a Esperança, pois afinal a vida não é apenas infortúnio: compete ao homem escolher entre o bem e o mal. Pandora é, pois, o símbolo dessa ambiguidade em que vivemos.

Em seu duplo aspecto de mulher e de terra, Pandora expressa a função da fecundidade, tal qual se manifesta na Era de Ferro na produção de alimentos e na reprodução da vida. Já não existe mais a abundância espontânea da Era de Ouro; de agora em diante é o homem quem deposita a sua semente (spérma) no seio da mulher, como o agricultor a introduz penosamente nas entranhas da terra. Toda riqueza adquirida tem, em contrapartida, o seu preço. Para a Era de Ferro a terra e a mulher são simultaneamente princípios de fecundidade e potências de destruição: consomem a energia do homem, destruindo-lhe, em conseqüência, os esforços; "esgotam-no, por mais vigoroso que seja", entregando-o à velhice e à morte, "ao depositar no ventre de ambas" o fruto de sua fadiga.

Mitologia - Mitologia Grega
Antropogênese - , 
7/25/2017 9:53:01 PM | Por Luís Manuel de Araújo
A criação dos homens na mitologia egípcia

Rá era o grande deus que no princípio apareceu sob a forma de Nun. Diariamente, Rá percorria o seu caminho solar no horizonte. Ele era o pai dos pais e a mãe das mães. Despojou-se de tudo aquilo que havia nele. Levou muitos nomes e apareceu sob muitas formas, com os nomes de Aton, Hórus de Hekem e Horakhti. Rá formou a terra e povoou-a de plantas e animais. Ordenou as águas e deu-lhes o seu rumo. Então uma vaca surgiu das águas e tornou-se no céu sobre a água e a terra. Rá também governava os arcanos para lá do horizonte e pacificava os deuses que estavam descontentes ou ociosos. Para criar os homens chorou, e das suas lágrimas surgiram os homens que povoaram a terra. Ofereceu também aos animais o milagre do amor e tornou-os ativos, para que eles pudessem desfrutar da sua existência no mundo.

Depois regulou a duração da noite e da duração do dia. Fixou as estações e fez com que o rio Nilo, sazonalmente, inundasse as terras e depois se retirasse para o centro do vale, para que homens e animais pudessem viver. Para regozijo do país e para que o recordassem, instituiu um calendário de festas.

Rá amava as nações. Quando ele apareceu pela primeira vez na Ilha das Chamas, manteve afastadas as forças da escuridão e do caos. Tornou-as obedientes, bem como à sua filha Maat, a quem deu toda a sabedoria e a ciência necessária para dirigir o mundo e governá-lo com justiça.

Durante as suas viagens diárias pelo horizonte dos vários países, ele observava continuamente, Maat, para se certificar de que ela levava a cabo a sua vontade e que não se desviava. Se fosse necessário, procurava dissuadi-la com zombaria e com escárnio ou de outras formas; ele nunca vacilava.

 

Mitologia - Mitologia Egípcia
Antropogênese - , 
5/28/2017 10:33:31 PM | Por A. S. Franchini
Os filhos do trovão

(Povo Tária)

A lenda da origem dos tárias, ou filhos do Trovão (também ditos filhos do Sangue do Céu) está longe de ser a mais famosa das nossas lendas indígenas. Contudo, é, seguramente, uma das mais interessantes, razão pela qual foi escolhida para abrir esta pequena mas representativa amostra da extraordinária capacidade imaginativa dos nossos verdadeiros ancestrais.

Os tárias – ou tarianas – eram uma tribo do rio Uaupés, situado no Amazonas. Segundo os estudiosos, a palavra “tária” deriva de “trovão”, elemento genésico primordial dessa tribo.

Vamos, pois, à originalíssima lenda que conta a origem dos tárias. Diz, então, que em um tempo muito antigo o Trovão deu um estrondo tão forte que o Céu rachou e começou a gotejar sangue. O sangue caiu em cima dele próprio, Trovão – aqui entendido como um ente personalizado –, e secou sobre o seu corpo. Algum tempo se passou e o Trovão trovejou outra vez, e o sangue que estava sobre ele virou carne. Mais adiante, um novo trovejar fez com que a carne se desprendesse do seu corpo e fosse cair sobre a Terra. Ao tocar o solo, a carne se despedaçou em mil pedaços, e estes pedaços se transformaram em gente – homens e mulheres.

Assustadiços por natureza, os filhos do Trovão correram logo a se meter no interior da primeira gruta, assim que anoiteceu (eles eram ignorantes das coisas da Terra, então, ao verem o sol desaparecer, imaginaram que ele nunca mais retornaria).

Quando começou a amanhecer, porém, tiveram uma grata surpresa: o céu voltava, pouco a pouco, a tomar uma coloração vermelha, sob o efeito da luz do sol.

Eles observaram o sol subir ao céu e, quando ele chegou ao zênite, sentiram fome. No alto de uma árvore, viram, então, um pássaro alimentando-se de um fruto.

– Façamos o mesmo! – disse um dos filhos do Trovão. Para uma primeira frase, não estava nada mal. Demonstrava prudência aliada a uma boa observação.

Os tárias – já podemos chamá-los assim – subiram na mesma árvore e foram comer dos mesmos frutos com os quais a ave se alimentava.

Empanturraram-se até a noite voltar, quando todos, assaltados novamente pelo medo, foram se meter no interior da gruta.

No dia seguinte, bem cedo, treparam outra vez na árvore para saciar a fome. Debaixo dela, surgiram dois cervos, macho e fêmea, que também começaram a se alimentar dos frutos que caíam. Dali a pouco, um dos cervos montou sobre o outro, e os dois esqueceram-se de tudo o mais.

– O que estão fazendo? – disse um dos tárias, que ainda ignorava as coisas deste mundo.

Eles observaram bem e retornaram para o interior da gruta.

Ninguém conseguia esquecer o que se passara entre os cervos, e estavam todos extraordinariamente inquietos.

Durante a noite, a Mãe do Sono – uma das tantas Cys, as mães divinas indígenas de tudo quanto há na mata – visitou-os em sua gruta para contar-lhes quem eles eram. Depois, transformou-os em cervos, e eles foram correndo para baixo da árvore repetir alegremente o que o casal de cervos de verdade havia feito.

Quando o dia amanheceu, os pares ainda estavam abraçados, um homem para cada mulher. E foi assim que os tárias deram início à sua gloriosa descendência.

Mitologia - Mitologia Sul-americana
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A razão e o método lógico são faculdades auto-suficientes para si e para as operações que lhes concernem. Partem, assim, do princípio que lhes é próprio e caminham a um fim preestabelecido; por isso tais atividades são denominadas “ações retas”, porque indicam a retidão do caminho

Marco Aurélio Antonino Augusto
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{+} Marco Aurélio Antonino Augusto
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